Na foto, Nina Cerveira veste a camisa da fundação Major Cerveira, seu pai , morto sem ainda hoje devolverem seu corpo,
na Operação Condor
O golpe de 31 de março de 64 foi desferido por reaccionários CIVIS E MILITARES contra as reforma de bases propostas por Jango, contra as organizações populares,
contra o povo brasileiro, Quatro anos despois, a serpente gerada no ovo saía brutal e faminta para matar, torturar e enlouquecer. Começou o tempo dos brasilerios de todas as idades, homens ou mulheres, jovens ou idosos, encotrarem a sua própia antimatéria. Porque até hoje nenhum órgão de repressão,
nenhum torturador, ninguém das elites empresariais comprometidas,
explicou para onde foram tantos brasileiros.Sabemos que o Coisa Ruim (Fleury) , que dizem ter morrido no mar ,torturava até crianças na frente dos pais. Sabe-se que outro Coisa Ruim ( CABOeta ANSELMO) entregou até a mulher grávida aos torturadores, que a mataram junto com a criança que ela trazia no ventre. Minha paixão Rosa, que eu chamei de Antígona, meus amigos Eudaldo e Jarbas Pereira ,mortos juntos com Soledad Barrett e Pauline Reischul e mais dois militantes da VPR, meu amigo paraibano Raimundo Ananias que cometeu suicídio como Frei Tito, meu amigo e colega Vladimir Herzog, e tantos outros tinham o corpo exposto como a evidência da violência e brutalidade daqueles dias.
E os que desapareceram sem deixar vestígio ? Encontro com suas próprias antimatérias? Sequestrados por ETs?Mortos pela fumaça de óleo diesel que poluem as grandes cidades ( seria esta a causa da morte de Stuart Angel?Por que ele achou de respirar poluição num lugar de ar puro como a Base Aérea do Galeão?))Ou por acidentes de trânsito – como mata o trânsito no Brasil !– como aconteceu com Zuzu Angel, mãe do jovem que respirou poluição. Até hoje, o silêncio, os quartos dos filhos e filhas arrumados esperando a volta (“ó,pedaço de mim/ou metade amputada de mim”) , procurando vencer pelo cansaço como faziam nos dias em que eles desapareceram : “aqui não está”, “não consta prisão”, “vá em tal quartel falar com o comandante Fulano”, era o jogo do empurra-empurra pra cansar, exaurir, desesperar, dar tempo de sumir com os cadáveres.
Na barra mais pesada, a televisão, sempre cúmplice com as trevas, divulgava matérias e mais matérias sobre brasileiros que desapareciam , que isso sempre foi normal no país, e vinham também com exemplos do mundo. Tudo para tirar o foco da questão principal : brasileiros seqüestrados pelo próprio Governo sumiam para sempre. Dezenas, centenas, sabe-se lá quantos.
Por isso, NÃO VAMOS CONCILIAR.
Anistia geral, crescimento econômico, Copa do Mundo, nada nos deve deixar de exigir a prisão dos torturadores e assassinos, alguns já identificados.
E pelos nossos verdadeiros heróis recuso o luto.Eles estão vivos em nossa memória, em nossos gestos de hoje, na nossa disposição de levar a tocha adiante, com textos, vídeos, filmes, palestras, passeatas, protestos. Recuso o luto e prefiro cantar com Noel Rosa :“Luto preto é vaidade/nesse funeral de amor/ o meu luto é a saudade/ e a saudade não tem cor”.
Por não ter espaço para citar todos, deixo como símbolos Carlos Marighela, Joaquim Câmara Ferreira, Lamarca, Gregório Bezerra, Odijas Carvalho, Mário Alves,David Capistrano. E as Luísas, Marias, Marilenas, Iaras, Nildas, Rosas, Angelinas, Anatálias, Esmeraldinas, e tantas outras brasileiras que abraçaram a luta pelo socialismo e desapareceram na batalha.
Este texto é também em memória de uma guerreira incansável : a advogada Mércia Albuquerque, que defendia os presos políticos em Pernambuco.( POR -ROBERTO MENEZES.)
Fazei isso por elas: "Dá vergonha viver num mundo que não foi capaz de impedir crimes hediondos contra mulheres indefesas, cometidos por agentes do Estado pagos com o dinheiro do contribuinte. ..."
Rose Nogueira - jornalista, presa em 1969, em São Paulo, onde vive hoje. “Sobe depressa, Miss Brasil’, dizia o torturador enquanto me empurrava e beliscava minhas nádegas escada acima no Dops. Eu sangrava e não tinha absorvente. Eram os ‘40 dias’ do parto. Riram mais ainda quando ele veio para cima de mim e abriu meu vestido. Segurei os seios, o leite escorreu. Eu sabia que estava com um cheiro de suor, de sangue, de leite azedo. Ele (delegado Fleury) ria, zombava do cheiro horrível e mexia em seu sexo por cima da calça com um olhar de louco. O torturador zombava: ‘Esse leitinho o nenê não vai ter mais’”.
Izabel Fávero – professora, presa em 1970, em Nova Aurora (PR). Hoje, vive no Recife, onde é docente universitária: “Eu, meu companheiro e os pais dele fomos torturados a noite toda ali, um na frente do outro. Era muito choque elétrico. Fomos literalmente saqueados. Levaram tudo o que tínhamos: as economias do meu sogro, a roupa de cama e até o meu enxoval. No dia seguinte, eu e meu companheiro fomos torturados pelo capitão Júlio Cerdá Mendes e pelo tenente Mário Expedito Ostrovski. Foi pau de arara, choques elétricos, jogo de empurrar e ameaças de estupro. Eu estava grávida de dois meses, e eles estavam sabendo. No quinto dia, depois de muito choque, pau de arara, ameaça de estupro e insultos, eu abortei. Quando melhorei, voltaram a me torturar”.
Hecilda Fontelles Veiga - estudante de Ciências Sociais, presa em 1971, em Brasília. Hoje, vive em Belém, onde é professora da Universidade Federal do Pará. “Quando fui presa, minha barriga de cinco meses de gravidez já estava bem visível. Fui levada à delegacia da Polícia Federal, onde, diante da minha recusa em dar informações a respeito de meu marido, Paulo Fontelles, comecei a ouvir, sob socos e pontapés: ‘Filho dessa raça não deve nascer’. (...) me colocaram na cadeira do dragão, bateram em meu rosto, pescoço, pernas, e fui submetida à ‘tortura cientifica’. Da cadeira em que sentávamos saíam uns fios, que subiam pelas pernas e eram amarrados nos seios. As sensações que aquilo provocava eram indescritíveis: calor, frio, asfixia. Aí, levaram-me ao hospital da Guarnição de Brasília, onde fiquei até o nascimento do Paulo. Nesse dia, para apressar as coisas, o médico, irritadíssimo, induziu o parto e fez o corte sem anestesia”.
Dilea Frate - estudante de Jornalismo presa em 1975, em São Paulo. Hoje, vive no Rio de Janeiro, onde é jornalista e escritora. “Dois homens entraram em casa e me sequestraram, juntamente com meu marido, o jornalista Paulo Markun. No DOI-Codi de São Paulo, levei choques nas mãos, nos pés e nas orelhas, alguns tapas e socos. Num determinado momento, eles extrapolaram e, rindo, puseram fogo nos meus cabelos, que passavam da cintura”.
Maria Amélia de Almeida Teles - professora de educação artística presa em 1972, em São Paulo. Hoje é diretora da União de Mulheres de São Paulo. “Fomos levados diretamente para a Oban. Eu vi que quem comandava a operação do alto da escada era o coronel Ustra. Subi dois degraus e disse: ‘Isso que vocês estão fazendo é um absurdo’. Ele disse: ‘Foda-se, sua terrorista’, e bateu no meu rosto. Eu rolei no pátio. Aí, fui agarrada e arrastada para dentro. Me amarraram na cadeira do dragão, nua, e me deram choque no ânus, na vagina, no umbigo, no seio, na boca, no ouvido. Fiquei nessa cadeira, nua, e os caras se esfregavam em mim, se masturbavam em cima de mim. Mas com certeza a pior tortura foi ver meus filhos entrando na sala quando eu estava na cadeira do dragão. Eu estava nua, toda urinada por conta dos choques”.
Este é o terceiro livro da série ‘Direito à Memória e à Verdade’, editado pela Secretaria de Direitos Humanos (SEDH) em parceria com a Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres. O golpe militar de 1964 que envelhece, mas não morre, completa 46 anos HOJE. .... A lembrança de crimes tão monstruosos contra a maternidade, contra a mulher, contra a dignidade feminina, contra a vida, é dolorosa também para quem escreve e para quem lê.... "
POR . José Ribamar Bessa Freire
Fuente: Juntos Somos Fortes
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